Lourenço Ortigão: "TVI e SIC fazem o que podem, muitas omeletas com poucos ovos"

Aos 23 anos, o mediatismo tornou o ator de 'Doida Por Ti' mais reservado, mas não se arrepende de ter abandonado o curso de Gestão. Benfiquista ferrenho, diz que o crescimento das novelas da SIC só fará a TVI ficar mais forte, fala da ligação familiar a Ramalho Ortigão e conta que a namorada acha piada ao assédio das fãs.
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Está a gravar a novela da TVI Doida Por Ti há já vários meses. E ao Lourenço, o que é que o deixa doido?

Sushi, adoro! E as filas de trânsito! Deixam-me completamente louco. Completamente!

Quão desafiante tem sido interpretar o Beto?

É uma personagem que me dá muito gozo. Ele vive num mundo em que não vivo. Só pensa em divertir-se, em miúdas e não tem preocupações. Ao mesmo tempo, consegue ser boa pessoa. É um desafio porque o Beto é muito diferente de mim. Há muitas pessoas que conheço que se identificam com ele. É engraçado ver isso.

É possível viver para sempre como o Beto, um calão descontraído?

Sempre não. Alguém que tenha objetivos de vida, certamente que não. É uma fase.

Doida Por Ti é exibida entre as 19.00 e as 20.00. Contente com este horário?

Foi uma boa aposta. Havia uma lacuna nesse horário, desde que acabou Morangos com Açúcar. Não havia nenhum formato que as pessoas agarrassem. A novela é ligeira e funciona àquela hora. O público tem dado uma boa resposta.

Ainda assim, Doida Por Ti nunca venceu Fina Estampa, da SIC, desde que se estreou...

Não vejo isso como uma guerra. As audiências não são uma corrida. O objetivo de Doida Por Ti não era ter grandes audiências, até porque Fina Estampa já estava no ar com bons resultados. O objetivo não era destronar essa novela. E ainda por cima uma que é boa. Mas a TVI precisava de preencher aquele espaço com um formato que conseguisse atingir um público diferente das novelas da noite. E isso foi conseguido.

Na última novela que fez, Remédio Santo, interpretou Miguel, um surdo-mudo. Foi difícil agarrar o desafio?

Foi. A preparação, principalmente. Aprendi língua gestual durante um mês na Associação Portuguesa de Surdos, foi um enorme desafio. E aprendi muitas coisas novas, como lidar com quem sofre de surdez. Aprendi a ver a sua perspetiva. Tudo o que aconteceu daí para a frente, nas gravações, foi cada vez mais natural, os gestos, tudo.

E qual foi o feedback da associação ao resultado final?

Gostaram! O meu objetivo era respeitar os surdos e os que não o são. O Miguel tinha que comunicar para os dois públicos, o que é difícil. Acho que consegui arranjar um equilíbrio.

Sente que essa personagem levou a indústria e o público a olhar para si de forma diferente?

As pessoas gostaram do trabalho e mostraram-se interessadas, deram-me os parabéns. As abordagens que tinha eram mais profissionais e menos pessoais durante essa novela. E isso foi bom. Talvez tenha notado um respeito diferente. Acho que começaram a olhar para mim de maneira diferente.

O Lourenço estreou-se como ator como protagonista de Morangos com Açúcar. Como é que recorda esses dois anos?

Foi ótimo! Os Morangos têm um ambiente único, diferente das novelas da noite. Passava muito tempo lá, mais do que em casa. De segunda a sábado. Durante um ano, aquela equipa era a minha família. Passámos por muito juntos. Guardo ótimas recordações ao nível das amizades e companheirismo de pessoas que ainda são minhas amigas e serão para toda a vida. Foi uma escola para mim, é um bom sítio para começar.

Curiosamente, o filme dos Morangos foi a longa-metragem portuguesa mais vista de todo o ano. Foi um erro a TVI acabar com a série?

Não sei se foi um erro. Se acabou, é porque tinha que ser. Mas continua a fazer falta uma série exclusivamente direcionada para os jovens. Nós guiamo-nos muito pelo que acontece no Brasil ao nível da ficção, vamos muito atrás deles. E lá, os brasileiros continuam a ter ora a Malhação ou a New Wave ou outras. Mais tarde ou mais cedo, tem que existir outra vez qualquer projeto com esse formato, se não for Morangos com Açúcar é Morangos sem Açúcar. De qualquer forma, com a crise na indústria e as quebras na publicidade, é normal que não exista.

Como é que olha para a concorrência da ficção da SIC, que cresceu bastante nos últimos tempos e ultrapassou, até, a da TVI no horário nobre?

A SIC fez uma aposta forte nos últimos anos na ficção. Contratou pessoas para isso. É ótimo que a concorrência seja mais forte para nós podermos crescer também. É uma luta saudável, um cresce e puxa pelo outro, e vice-versa, como um Benfica-FC Porto. A parceria com a TV Globo tem sido boa para a SIC. Mas pelas pessoas que gravam à minha volta, não sinto que ninguém se importe muito com essa concorrência porque o nosso trabalho é representar.

Mas falta alguma coisa à ficção da TVI?

Não. A TVI e a SIC fazem aquilo que podem. Fazem muitas omeletas com poucos ovos. Vivemos num mercado pequeno. Se formos ao Brasil, a produção é 18 vezes maior, existe maior orçamento, maior receita e a visibilidade também. Uma novela da TV Globo vê-se em mais de 100 países. Para o mercado que temos cá, a SIC e a TVI fazem ótimas produções. Dois Emmys nos últimos três anos falam por si.

O que é que não perde na televisão?

Futebol! Não só os do Benfica, todos. E também vejo muito notícias e programas de humor.

Com três anos de televisão, como é que olha para o seu percurso?

Tenho crescido com o que tenho feito e aprendido. Já fiz três personagens completamente diferentes e isso faz parte da aposta da TVI. Tem-me dado boas oportunidades e grandes atores para contracenar.

Qual é a percentagem de sorte e de esforço no meio disto tudo?

Na entrada para os Morangos, a sorte foi 100%. Daí para a frente, deixou de existir sorte e foi mais pelo meu esforço. Diria 70% de esforço e 30% de sorte para as personagens que me atribuíram.

Ajuda ou prejudica ser um ator com uma cara bonita?

Ajuda mais do que prejudica. Eu entrei neste meio porque tinha uma cara bonita. Fui a um casting e entrei. A televisão é isso. Mas daí para a frente, só isso não vale. Há muitas caras bonitas que ficam pelo caminho. Mas uma cara bonita nunca prejudica se se for um bom ator. Veja-se um Jude Law ou um Brad Pitt.

O Lourenço cantava nos Morangos. Mantém esse hábito na vida real?

No banho canto imenso! [risos] Gostava de ter uma boa voz, que não tenho. Também toco guitarra!

E se a TVI o convidasse para participar em A Tua Cara Não Me É Estranha?

Não sei. Nunca digas nunca. É um programa direcionado para artistas, não para cantores. Logo, é um formato que qualquer ator pode fazer. Agora, não sei se faria boa figura! [risos]

O que é que a exposição mediática lhe tem ensinado?

Aprendi a gozar a minha privacidade com quem gosto. Antes se calhar tinha mais amigos e era mais sociável. Hoje sou mais retraído e tenho um leque mais pequeno. Não faço fretes.

Em Doida Por Ti, contracena pela segunda vez com a sua namorada, Sara Matos. Separam bem as águas ou é estranho?

Não é nada estranho. Cruzamo-nos pouco, normalmente nunca gravamos no mesmo sítio ou hora. Mas é bom! Às vezes quando um não tem um guião em casa, o outro tem. É ótimo! [risos]

São críticos do trabalho um do outro?

Gostei sempre dos papéis da Sara até agora, ela tem crescido imenso. Fazemos as nossas críticas, mas normalmente nunca falamos muito de trabalho em casa. Quando estamos a descansar, estamos a descansar.

Apesar de serem novos, mantêm uma relação estável. Existe alguma receita?

Acho que não. Todos somos diferentes, cada relação é uma relação. Respeitar a outra pessoa é meio caminho andado, obviamente.

Como é que ela lida com o assédio das fãs?

Acha graça, a Sara ri-se com isso.

Abandonou o curso de Gestão quando começou a representar. Foi uma escolha difícil?

Foi. Mas acho que fiz tudo certo, não me arrependo de nada. Hoje faço o que gosto. Ainda vou acabar o curso, por agora está em stand by.

E os pais, como reagiram à decisão?

Aos poucos, foram aceitando. Foi mais difícil para eles do que para mim. Hoje, sabem que é a representação aquilo que quero fazer e apoiam-me.

Já sente a crise no seu dia-a-dia?

Já sinto. As produções de novelas são mais incertas, os elencos menores. Os trabalhos de publicidade também diminuíram. É triste, a crise toca a todos. Vamos ver quem se aguenta neste barco.

Se tivesse sem trabalho, saía do País?

Saía. Não é por não acreditar no País, mas Portugal precisa que as pessoas que podem emigrem para trazerem novos conhecimentos. É enriquecedor conhecer novos mercados e responsabilidades. Emigrar seria a primeira coisa que faria.

É verdade que é primo-sobrinho-bisneto em segundo grau de Ramalho Ortigão?

É! [risos] O meu pai ficou com o manuscrito de As Farpas, por exemplo. Tem isso guardado. Com esta crise, acho que faço um leilão! [risos] Estou a brincar!

O gosto pela escrita passou para si?

Tive uma lesão grande na mão que me impediu de escrever por muito tempo. Mas gosto de escrever, de criar. Tenho um livro onde escrevo ideias parvas! [risos] Um dia, ainda hei-de usar.

Uma coisa que ninguém saiba sobre si...

Durmo sempre de meias. [risos]

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